ENFERMEIRO: A PROFISSÃO DO SACRIFÍCIO
VOCÊ E A LUTA PELAS 30 HORAS
Introdução
A
Saúde do Trabalhador
O processo de trabalho deve ser o
centro das atenções na saúde do trabalhador, pois possibilita a análise da
interseção adoecimento/sofrimento ligadosà atividade laboral, e de todos os
fatores como as relações humanas e a significação do trabalho na vida do
indivíduo. Dessa forma, através do estudo do processo de trabalho de diferentes
profissionais, inclusive do enfermeiro, é possível considerar o seu desgaste
físico e psíquico e estabelecer a relação causa-efeito com as diversas atividades
produtivas ou laborativas. Assim, ao refletir sobre o processo de trabalho em
saúde é possível relacioná-lo ao de diversos setores como a indústria, a economia
entre outros, pois compartilha características comuns a estes.
Assim :
Iniciemos com Sigmund Freud, pois ele nos
apresenta de forma bastante precisa a dimensão que o trabalho tem na vida do
indivíduo:
Não é possível, dentro dos limites de um
levantamento sucinto, examinar adequadamente a significação do trabalho para a
economia da libido.
Nenhuma outra técnica para a conduta da
vida prende o indivíduo tão firmemente à realidade quanto a ênfase concedida ao
trabalho, pois este, pelo menos fornece-lhe um lugar seguro numa parte da
realidade, na comunidade humana.
A possibilidade que essa técnica oferece de
deslocar uma grande quantidade de componentes libidinais, sejam eles
narcísicos, agressivos ou mesmo eróticos, para o trabalho profissional, e para
os relacionamentos humanos a ele vinculados, empresta-lhe um valor que de
maneira alguma está em segundo plano quanto ao de que goza como algo
indispensável à preservação e justificação da existência em sociedade. A
atividade profissional constitui fonte de satisfação especial, se for
livremente escolhida, isto é, se, por meio da sublimação, tornar possível o uso
de inclinações existentes, de 1 Psicóloga impulsos instintivos persistentes ou
constitucionalmente reforçados (FREUD, 1930/1976, p. 144).
A partir de Freud, consideramos a
atividade profissional como sendo continente de muitos aspectos subjetivos, uma
vez que em sua vivência podemos dar vazão a pulsões, podemos chegar a uma
realização pessoal, enfim, temos a oportunidade de viver de forma
emocionalmente mais rica e prazerosa, e portanto, com mais saúde. Porém não é dado
como certo que o Trabalho seja sempre sentido desta maneira. É muito tênue
adiferença que separa uma vivência profissional saudável da patológica, que sobrecarrega
e fere emocionalmente o sujeito.
No
caso do enfermeiro, sabemos não ser tarefa fácil conciliar este cuidado de
ordem prática e emocional tal como apresentamos sob a denominação de função materna.
O Enfermeiro, à sua maneira, pode encontrar um suporte sobre o qual possa se
apoiar durante a sua atuação. Porém nem todos os Enfermeiros tem os mesmos
recursos emocionais e conseguem “suportar” bem o envolvimento que têm com o
paciente. Desta forma, parece ser algo
de extrema importância pensar neste cuidador; se ele está preparado para lidar
emocionalmente com toda a carga emocional de que é depositário durante os
atendimentos que realiza. Se a sua formação contempla, e de que maneira
contempla, quando pensamos em cuidar da saúde mental deste Profissional da
Enfermagem.
Enfermagem é a arte de
cuidar e a ciência cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano,
individualmente, na família ou em comunidade de modo integral e holístico,
desenvolvendo de forma autônoma ou em equipe atividades de promoção, proteção,
prevenção, reabilitação e recuperação da saúde. O conhecimento que fundamenta o
cuidado de enfermagem deve ser construído na intersecção entre a filosofia, que
responde à grande questão existêncial do homem, a ciência e tecnologia, tendo a
lógica formal como responsável pela correção normativa e a ética, numa
abordagem epistemológica efetivamente comprometida com a emancipação humana e
evolução das sociedades.
A saúde dos enfermeiros
O trabalho do enfermeiro sofre os impactos das transformações no mundo
do trabalho do século XXI. Compreender como estas transformações têm afetado a qualidade de vida e a saúde dos
trabalhadores é um desafio para as pesquisas atuais.
As longas jornadas de 12 horas, 24 horas, ou mais, plantões noturnos, e
o multiemprego são exemplos de algumas modalidades de trabalho exercidas pelos
enfermeiros. Estas características têm sido associadas a distúrbios musculoesqueléticos,
à obesidade e hábitos de vida pouco saudáveis, tais como: dormir menos de
6h/dia, maior consumo de bebidas alcoólicas e cigarro. Levando-s em conta a má condições de trabalho. Estes
fatores aumentam a chance de desenvolvimento de diversos problemas de saúde, em
especial, problemas cardiovasculares e psicológicos.
No Brasil, segundo Sarquis (2007)
muitos trabalhadores de saúde principalmente na enfermagem, estão submetidos a
processos de desgaste porque necessitam mais de um vínculo empregatício, o que
se sobrepõe às atividades, diminuindo períodos de descanso e lazer. Portanto, o
trabalhador realiza longas jornadas de trabalho de até 18 horas consecutivas,
para depois realizar o descanso. Cecagno et al. (2002), refere que muitas vezes
o trabalhador torna-se distante de seus familiares e de situações da vida
diária por ter jornadas longas ou correr
entre dois ou três empregos,
tornando-se alienado, irritado e estressado e afastando-se do convívio social e
familiar. Dessa forma direciona a maior parte de seu tempo a atividades
profissionais, deixando de lado questões subjetivas, pois passa a ver o
trabalho em primeiro plano sem perceber os prejuízos que está acumulando não
apenas para si como também à família.
O trabalho em turnos, particularmente o trabalho noturno, está associado
a agravos à saúde: distúrbios digestivos, problemas psíquicos, queixas do sono,
doença coronariana e problemas na saúde reprodutiva. No caso dos trabalhadores
de enfermagem que trabalham à noite, deve-se considerar que as consequências da
privação de sono não incidem apenas sobre os trabalhadores, mas também sobre a
assistência prestada aos pacientes, resultando na maior possibilidade de erros
nos cuidados de enfermagem, já que podem diminuir o desempenho psicomotor. No
entanto, os horários de sono durante o plantão noturno ainda não estão
regulamentados no trabalho de enfermagem.
Observação:
Para Marzialle (1995) a carga
horária de trabalho excessiva pode desencadear a fadiga mental nos
profissionais, acarretar alterações na concentração, distúrbios do sono,
desconforto físico, aumento das reações à luz e ruídos, sintomas esses mais
comuns em enfermeiros do plantão noturno, seguidos dos enfermeiros do plantão
da manhã e da tarde, o que pode ser relevante e contribuinte para o adoecimento
crônico.
Os problemas de saúde entre os
trabalhadores têm gerado manifestações de presenteísmo e absenteísmo. O
afastamento do trabalho por motivos de saúde resulta em grandes perdas tanto
para o trabalhador quanto para as instituições.
Muitos são os fatores que obrigam ao
trabalhador da enfermagem não se ausentar do trabalho para se tratar, um deles
é as 40 horas semanais, que alguns hospitais impõem aos seus profissionais.
Essas 40 horas estão ligadas a condições
que não respaldam ao trabalhador se afastar do trabalho por um período de 30
dias ou mais, mesmo que seja por motivo
de doença e como conseqüência deste afastamento impõe-se perda salarial. Desta
forma o trabalhador, mesmo doente faz de tudo para não se afastar do trabalho.
As consequências do presenteísmo, que se refere à “presença física do indivíduo
no trabalho; porém com mau desempenho e baixa produtividade”,
Muitas vezes, os trabalhadores
comparecem ao trabalho, porém doentes, aspecto este que pode estar relacionado
tanto a problemas de saúde propriamente ditos, como relacionado ao grau de
motivação, engajamento ou satisfação com o trabalho.
Assim, é notória a necessidade e a importância de estudos
sobre o efeito da organização do trabalho na saúde dos profissionais de
enfermagem, que se expressa também através dos horários de trabalho, duração da
jornada e ritmo de trabalho.
A obtenção de evidências mais acuradas sobre
as relações entre o trabalho e a saúde poderá contribuir para justificar a
importância dos exames periódicos de saúde ( que as instituições privadas e
públicas não submetem seus funcionários) integrados aos cuidados preventivos
entre os trabalhadores de turnos, além de oferecer dados para subsidiar
legislações específicas que protejam a saúde destes trabalhadores.
Uma Visão Ampla da Enfermagem
A enfermagem é uma profissão que abrange uma diversificada maneira de
conviver com as pessoas. Sendo uma profissão que convive com os seres humanos
nos momentos mais críticos da sua vida, a enfermagem torna-se uma profissão que
pode ser considerada generalista, ou
seja: apresenta um diversificado
conhecimento sobre as demais profissões.
Como diz o dito popular:
Todo Enfermeiro tem um pouco de: Médico, Educador, Psicólogo,
Psiquiatra, Nutricionista, etc...
Com toda essa diversidade da profissão a enfermagem também tem seus
anseios e sofrimentos, pois, estes profissionais também são seres humanos e
sofrem as conseqüências de desgaste físico e mental, como qualquer pessoa.
Hoje em dia podemos observar e analisar a enfermagem em vários aspectos,
mais vamos nos prender no ser humano com necessidades e condições necessárias
para exercer sua profissão digna e
saudável.
Vejamos:
a.
Com Relação ao Sexo
-
A enfermagem é uma profissão predominantemente feminina e observa-se que
num grupo de 100% de profissionais, 80% são do sexo feminino.
b.
Quanto a Idade
-
No Brasil, no momento, observa-se
que a idade média dos enfermeiros em exercício da profissão é de 48
anos, sendo que os mais novos têm em média 22 anos e os mais velhos têm em
média 65 anos.
c.
Com Relação a Família
-
Mais da metade dos Enfermeiros são casados (em média 72%) e em média 67%
tem filhos.
d.
Vínculo Empregatício
-
Observa-se que mais da metade do
universo de Enfermeiros têm 02 (dois) vínculos empregatício e que grande
parte são funcionários públicos, em
média 84%.
e.
Trabalho Profissional ( Carga Horária Semanal )
-
Com relevância a carga horária
semanal, os enfermeiros apresentam uma carga horária bastante elevada (
pesada), entre 60 à 64 horas semanais.
f.
Trabalho Doméstico
-
como a enfermagem é uma profissão onde o maior número de profissionais é
do sexo feminino, observa-se que o trabalho profissional, soma-se o trabalho
doméstico ( realizado em casa ). É observado ainda que média o trabalho
doméstico ocupa cerca de 16 horas semanais desse profissional.
g.
Trabalho Noturno
-
Como é notório o trabalho de enfermagem envolve o turno diurno e o
noturno. Sendo que um nº bem
significativo (57%), tem um trabalho ou um emprego noturno. O que é muito
desgastante e prejudicial para a saúde física e mental do profissional da
enfermagem, isto porque ele não está só envolvido com o trabalho noturno, mas,
esta envolvido a questão emocional também ( convivendo com a dor, o sofrimento, o
nascimento, a morte, etc...) .
h.
Satisfação com a Profissão e o Trabalho
-
Uma grande maiorias esta satisfeita com a profissão que abraçou ( 56%).
Mais muitos relatam insatisfação com as condições de trabalho que as
instituições lhes oferecem.
Já com relação ao salário, quase a totalidade (97%), demonstra
insatisfação, levando em conta a responsabilidade e o esforço que a profissão
exige.
i.
Quanto ao Reconhecimento no Trabalho
-
Cerca de mais da metade, aproximadamente 60% dos enfermeiros alegam não
receber o reconhecimento e o respeito adequado que deveriam receber.
j.
A Saúde do Enfermeiro
-
Como em qualquer profissão as pessoas adoecem e na enfermagem não
poderia ser diferente.
As doenças mais comuns identificadas nos profissionais de enfermagem
são:
a.
Hipertensão Arterial
|
48%
|
b. Dislipedemia
|
43%
|
c.
Problemas Vascular
|
42%
|
d.
LER e DORT
|
40%
|
e. Gastrite
|
32%
|
f.
Problemas Articulares
|
22%
|
g. Doenças renais
|
19%
|
h.
Hérnia de Disco
|
13%
|
i.
Diabetes
|
10%
|
Observação:
Definição de LER e DORT
Consiste em uma síndrome de dor nos membros superiores, com queixa de grande incapacidade funcional, causada primariamente pelo
próprio uso dos membros superiores em tarefas que desenvolvem
movimentos locais ou posturas forçadas. Também é conhecido por L.T.C.
(Lesão por Trauma Cumulativo) e por D.O.R.T
(Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), mas na realidade
entre todos estes nomes talvez o mais correto tecnicamente seria o de
Síndrome da Dor Regional. Contudo, como o nome L.E.R se tornou comum e até popular, esta é a denominação adotada no Brasil,
e representa exatamente o que se trata a doença, pois relaciona sempre
tais manifestações com certas atividades no trabalho. O diagnóstico
diferencial deve incluir as tendinites e tenossinovitisprimarias a outros fatos, como reumatismo, esclerose sistêmica, gota, infecção gonocócica, traumáticas, osteoartrite, diabetis, mixidema, etc., uma vez que estas também representam frequentes lesões causadas por esforço repetitivo.
As lesões inflamatórias causadas por esforços repetitivos já eram
conhecidas desde a antiguidade sob outros nomes, como por exemplo, na idade velha, a "Doença dos Quibes", que nada mais era do que uma tenossinovite, praticamente desaparecendo com a invenção da impensa. Já em 1891, De Quervain descrevia o "Entorse das Lavadeiras".
É muito comum as doenças Crônicas no profissional de
enfermagem, podemos citar os seguintes
exemplos:
Hipertensão Arterial, o Diabetes
Melittus e as Dislipidemias, assim podemos estar atentos e buscar a prevenção de agravos e no processo de trabalho em enfermagem.
A Hipertensão Arterial (HA) foi a
doença de maior prevalência entre os enfermeiros confirmando os achados na
literatura, seguida de HA associada a Dislipidemias. A HA acomete,
aproximadamente 22% da população adulta brasileira e corresponde a 15,2% das
intervenções realizada no SUS, constituindo o fator de risco mais comum para
doenças cardiovasculares, as quais representam a primeira causa de mortalidade
no Brasil (BRASIL, 2002).
Etc....
k.
Saúde Psíquica e Emocional
-
São muitas as queixas de insônia,
tensão e tristeza. Muitos perdem o sono pro preocupação (25%), muitos relatam
depressão e tristeza (33%) e um número bem expressivo se sente incapaz de manter
a atenção no que está fazendo ( 81% ).
l.
Preparação da Saúde de Cada Enfermeiro
-
Muitos Enfermeiros se consideram em bom estado de Saúde, quando
comparado com outras pessoas de sua idade. Mais o que assistimos no dia-dia é
que, o Enfermeiro em geral, cuida da Saúde das outras pessoas e
esquece da sua.
Observando-se em percentagem tal
colocação, temos um índice de 62% com esta resposta, mais a realidade
evidenciada é outra. Muitos Enfermeiros mostram-se bem, mais a realidade é que
as doenças: ocupacionais, de stress e emocionais estão presente na vida deste
profissional.
m.
Abscenteísmos
-
O afastamento do enfermeiro é em número de 45% para tratamento de saúde,
consultas médicas ou para fazer exames de rotina, pelo menos 01 (um) dia por
ano.
Lembrando que a profissão é formada na sua maioria de pessoas do sexo feminino e tal afastamento é
um direito previsto em lei.
Observação:
Não foi observado em órgão
públicos ou privados obrigatoriedade de exames periódicos para os profissionais
da saúde.
n. Hábitos e Estilo de Vida
- Nos dias atuais são inúmeros os hábitos incorporados
a vida de cada pessoa e o Enfermeiro não pode ficar fora desse grupo.
Como sabemos os hábitos de vida são fatores
importantes para determinar a boa saúde ou a má saúde de uma pessoa.
Baseado neste fato observa-se entre os
Enfermeiros as seguintes informações
sobre os hábitos e estilos de vida:
a. 69%- não praticam exercícios físicos
|
b. 80%- estão acima do peso
|
c. 12%- são fumantes
|
d. 19%- ingerem bebidas alcoólicas, + de 1
X/ semana
|
e. 24%- se alimentam de forma inadequada,
+ de 4X/semana
|
f. 18%- se auto medicam
|
h. 40%- não fazer 2 alimentações
adequadas diariamente
|
Foi enumerado apenas alguns fatores
preponderantes, se formos fazer um análise mais profundo podemos observar
outras colocações que proporcionam uma má qualidade de vida de qualquer
profissional.
Tudo isso deve-se a complexidade de vida do
profissional da saúde, em particular do Enfermeiro, que tem uma responsabilidade
imensa, que é a de cuidar de pessoas.
Não podemos nos esquecer da sobrecarga de trabalho e do Stress do
dia-dia deste profissional.
Observação:
O exercício físico regular reduz a
pressão arterial sistólica e diastólica em normotensos, auxilia na redução dos
níveis pressóricos dos doentes, e deve ser acrescentado ao tratamento não
medicamentoso da hipertensão arterial. Reduz
também o peso corporal e contribui
para a diminuição do risco de indivíduos normotensos desenvolverem hipertensão.
A atividade física deve estar representada por exercícios físicos aeróbicos
tais como caminhadas, ciclismo, natação e corrida,
realizadas numa intensidade entre 50 a 70% do consumo máximo do
oxigênio, com duração de 30 a
45 minutos, três a cinco vezes por semana (SBH, 2006).
o. O Sono do Enfermeiro
- O sono de boa qualidade é um dos fatores
preponderantes para a saúde de qualquer pessoa.
Devido a vida estressante que os
Enfermeiros levam, principalmente os que
trabalham nos plantões noturnos, a saúde do Enfermeiro é afetada. Quando
avaliamos quanto a satisfação com o sono um número bem considerado,
aproximadamente 42%, afirmam estarem insatisfeitos com o sono.
Lembrando que, o ser humano tem um
relógio biológico que regula todo funcionamento do seu organismo, quando este
relógio é alterado certamente o organismo certamente sofre danos.
BIBLIOGRAFIA :