Hiperplasia Adrenal Idiopática (HAI)
Hiperaldosteronismo  Primário
"Em 1956, Conn tornou-se o  primeiro médico a caracterizar adequadamente o hiperaldosteronismo primário  (HP). 
A “síndrome de Conn”,  contudo, refere-se principalmente ao hiperaldosteronismo secundário a um  aldosteronoma adrenal". 
Atualmente, acredita-se que o HP seja responsável por  cerca de 5-15% dos casos de hipertensão arterial sistêmica (HAS) secundária.  Apesar de desafiador, o diagnóstico de HP é crítico, uma vez que nestes casos a  hipertensão arterial pode ser curada cirurgicamente”.  
Anteriormente, acreditava-se o adenoma produtor de  aldosterona (APA) era a forma mais comum de HP.
 Hoje, sabe-se  que a Hiperplasia Adrenal Idiopática (HAI) bilateral  responde por 45% dos casos de HP. O APA e a HAI são as duas principais causas de  HP e sua diferenciação é vital, uma vez que cada uma possui sua própria  abordagem terapêutica de escolha (a saber: cirurgia nos pacientes com APA e  tratamento clínico na HAI). 
 
| Tabela 01 - Causas de  HP | 
| • Adenomas  produtores de aldosterona (APA)
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A principal  anormalidade fisiológica relacionada à HP é a produção autônoma de aldosterona.  Dependendo do subtipo de HP, o controle da produção de aldosterona pode estar  alterado de várias formas. Em geral, o APA e a HAP respondem ao ACTH, enquanto  que a HAI e a APASR não respondem ao sistema renina-angiotensina  (SRA).
No AGR (HPF-1), o SRA encontra-se inibido e a aldosterona é  regulada pelo ACTH através de combinações quiméricas com regiões do gene  aldosterona-sintetase (o que não acontece em situações normais). Dessa forma, os  níveis de ACTH superestimulam a síntese de aldosterona. Nos pacientes com AGR, a  administração de dexametasona (ou qualquer outro glicocorticóide) em doses  capazes de suprimir a produção de ACTH resulta em redução da síntese de  aldosterona, da natriurese e correção das anormalidades bioquímicas da HP.
Parece haver uma maior prevalência de HAI entre homens (proporção 4:1),  negros e após a sexta década de vida. APA são mais comuns em mulheres (proporção  de 2:1), entre 30-50 anos de idade.
Quadro Clínico
Deve-se suspeitar de HP  em:
- Pacientes com hipocalemia espontânea ou não-provocada,  especialmente entre hipertensos.
- Pacientes que desenvolvem hipocalemia  severa e/ou persistente na presença de doses baixas ou moderadas de diuréticos  não-poupadores de potássio.
- Pacientes  com HAS refratária.
Além da  hipertensão arterial, pode-se encontrar adinamia, distensão abdominal, íleo  paralítico (decorrente de hipocalemia) e manifestações relacionadas às  complicações da hipertensão (p.ex.: insuficiência cardíaca, seqüelas de AVC,  sopros carotídeos, proteinúria, insuficiência renal, encefalopatia hipertensiva  e retinopatia). Entretanto, pacientes com HP não costumam apresentar  manifestações específicas ao exame físico, daí a importância de se manter um  alto índice de suspeição.
| Tabela 02 - Diagnósticos  Diferenciais do HP | 
| • Adenoma Adrenal
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Diagnóstico
O  diagnóstico envolve 3 etapas: triagem, confirmação e determinação do subtipo de  HP. Os principais testes diagnósticos são descritos a  seguir:
A. Presença de Alcalose Metabólica  (bicarbonato sérico >31 mEq/L) e Hipocalemia (potássio <>
a.1. Dado  inespecífico: até 40% dos pacientes com HP são normocalêmicos.
a.2. A Hipocalemia isoladamente possui  sensibilidade de 75-80% para HP em pacientes com dietas  normossódicas.
B. Razão da concentração plasmática de  aldosterona (CPA) sobre a atividade da renina plasmática (ARP) :
     b.1. Pode (e é) ser utilizada  como teste de triagem.
b.2. Valores normais são inferiores a  270 (quando a concentração de aldosterona é expressa em pmol/L) ou menores que  10 (quando a concentração de aldosterona é expressa em ng/dL).
b.3. Quando a aldosterona é medida em  ng/dL e a ARP em ng/mL/h, valores acima de 20-25 apresentam uma sensibilidade de  95% e especificidade de 75% para HP. Quando a aldosterona é medida em pmol/L,  uma razão maior que 900 é considerada compatível com HP.
b.4. Uma grande limitação deste teste  está na variabilidade inerente da secreção de aldosterona devido a um ritmo  circadiano intrínseco e ao uso de medicamentos anti-hipertensivos (que muitas  vezes não podem ser suspensos apenas para realização de um exame diagnóstico).
b.5. O uso de inibidores  da ECA aumenta a especificidade do exame, mas reduz sua  sensibilidade.
C. Teste de  Supressão do Captopril 
    c.1. Consiste na administração de uma  dose de 25-50 mg de captopril por via oral. Em indivíduos normais, os níveis de  aldosterona caem abaixo de 15 ng/dL.
c.2. Sensibilidade de 90-100% mas  especificidade de apenas 50-80%.
D. Dosagem da  Concentração Plasmática de Aldosterona 
    d.1. Após 03 dias de dieta sem  restrição de sódio e 1 hora de repouso, indivíduos sadios apresentam níveis de  aldosterona abaixo de 15 ng/dL. A presença de níveis acima de 22 ng/dL  virtualmente confirma o diagnóstico de HP.
d.2. Uma vez que a secreção de  aldosterona é variável, o valor preditivo positivo e negativo de uma única  dosagem aleatória de aldosterona é limitado.
d.3. Até 40% dos pacientes com HP  apresentam níveis normais de aldosterona e não podem ser diferenciados daqueles  com HAS essencial através deste teste.
E. Excreção Urinária da Aldosterona em 24  horas (Aldo-U)
    e.1. Uma das ferramentas diagnósticas  mais úteis.
e.2.  Encontra-se acima de 14 mg/dL na HP.
e.3. Menos de 7% dos pacientes com HP  apresentam valores abaixo de 14 mg/dL.
F. Teste de  sobrecarga salina 
    f.1. Consiste na ingestão diária de  10-12g de cloreto de sódio por 5 dias antes do teste e então dosa-se a CPA. Em  indivíduos saudáveis, a CPA encontra-se em níveis abaixo de 8,5 ng/dL.
f.2. Este teste raramente é  utilizado nos dias de hoje.
G. Tomografia Computadorizada das Adrenais  com contraste
    g.1. Só detecta aldosteronomas com  diâmetro superior a 
g.2. Pode ser complicado com a  detecção de incentalomas (encontrados em até 10% da população).
g.3. A alta resolução do exame pode se  tornar um problema, uma vez que a hiperplasia adrenal costuma associar-se à  formação de nódulos, provocando confusão com adenomas  autônomos.
H. Análise Venosa Adrenal
     h.1. Dependente de radiologistas  intervencionistas
h.2.  Acurácia maior que 95%
h.3. Avalia a razão das concentrações  de aldosterona entre as veias adrenais esquerda e direita. Uma razão maior que  10:1 indica secreção autônoma unilateral de aldosterona
h.4. Estenose da artéria renal pode  produzir resultados falso-positivos
h.5. Complicações potenciais: trombose  venosa ilíaca e adrenal, hemorragia adrenal, insuficiência adrenal
h.6. Este é um exame ideal nos casos  com suspeita de HP onde as análises bioquímicas e os exames de imagem foram  inconclusivos
I. Ressonância Nuclear Magnética
    i.1. Não é  superior à TC com contraste
i.2. Paciente com TC e/ou RNM normais:  pode-se realizar tratamento com antagonistas da aldosterona por 6-12 meses e  então repetir os exames de imagem
J. Cintilografia com iodocolesterol NP-59
    j.1. Diferencia a  hiperplasia dos adenomas
j.2. Acurácia de 90%
j.3. Desvantagem: disponível apenas em  alguns poucos centros de referência de medicina nuclear
j.4. Principal alternativa ao teste de  amostragem venosa adrenal
K. Teste de supressão de Dexametasona
    k.1. Relevante  apenas nos casos de possível HPF
k.2. Padrão em pacientes com AGR  (HPF-1): pequenas doses de dexametasona (1-2 mg/ dia) normalizam os níveis de  aldosterona plasmática e urinária e corrigem a HAS
k.3. Desvantagem: pacientes com HPF-2  não apresentam resposta positiva no teste
L. Teste da metoclopramida
     l.1. Promissor na diferenciação  entre aldosteronomas e HAI
l.2. Após uma injeção endovenosa de 10  mg de metoclopramida, os níveis séricos de aldosterona aumentam  significativamente em pacientes com aldosteronoma, mas permanecem inalterados ou  diminuem em pacientes com HAI.
M. Teste terapêutico com Espironolactona
    m.1.  Administram-se 100 mg de espironolactona via oral de 6/6h por 5 semanas. O teste  é considerado positivo quando se observa uma redução de pelo menos 20 mmHg na  pressão arterial diastólica
 m.2. Por ser muito demorado e de  aplicação difícil, não é mais utilizado como teste diagnóstico para  HP
N. Teste de estimulação com ACTH
    n.1. Consiste na  injeção endovenosa de 250 mcg de ACTH
n.2. Nos pacientes com adenomas,  ocorre um aumento abrupto dos níveis de aldosterona
n.3. Este teste não é mais utilizado  devido à sua baixa acurácia
O. Flebografia adrenal
    o.1. Caiu em desuso devido ao risco de  infarto adrenal
Tratamento
Conforme  mencionado, o tratamento de escolha difere nas duas principais causas de HP. Na  HAI, a abordagem é essencialmente clínica, enquanto que no APA a cirurgia é a  escolha na maioria dos casos. 
No  tratamento clínico da HP, os antagonistas mineralocorticóides (p.ex.:  espironolactona, 
Outros  diuréticos poupadores de potássio (p.ex.: amilorida e triantereno) não são boas  opções, pois não se ligam aos receptores mineralocorticóides. Por isso, são  utilizados como medicações de segunda linha e precisam ser associados a outros  anti-hipertensivos para produzir um controle adequado da pressão arterial.  Bloqueadores de canais de cálcio (p.ex.: nifedipina) são úteis no controle da  HAS, mas não corrigem o mecanismo fisiopatológico da  doença.
No  subgrupo de pacientes com AGR (HPF-1), deve-se utilizar a menor dose possível de  glicocorticóides para manter o paciente normotenso. Deve-se preferir  glicocorticóides de ação rápida, tais como prednisona e hidrocortisona (ao invés  da dexametasona).
O  tratamento clínico também pode ser indicado nos pacientes com doença unilateral  (quando comorbidades não permitem o tratamento cirúrgico) ou nos casos  bilaterais (para evitar a adrenalectomia bilateral). No pré-operatório,  recomenda-se administrar espironolactona por 
A  abordagem videolaparoscópica vem se tornando padrão. Cerca de 70% dos pacientes  tratados cirurgicamente se encontram normotensos 1 ano após a cirurgia (53%  permanecem sem HAS após 5 anos). A persistência da HAS após o tratamento  cirúrgico é mais comum em pacientes com mais de 45 anos de idade, naqueles que  eram hipertensos há mais de 5 anos e nos casos em que não se observou resposta  pré-operatória durante o uso de espironolactona. Deve-se considerar ainda a  possibilidade de ressecção incompleta do adenoma
Pacientes com  HAS e hipocalemia e a maioria dos pacientes com HAS refratária ao tratamento  devem ser examinados quanto à possibilidade de HP. A apresentação clínica da HP  não é específica e o diagnóstico correto requer um alto índice de suspeita por  parte do médico assistente. 
A  concentração plasmática de aldosterona (CPA) e a razão entre a CPA e a atividade  da renina plasmática (ARP) são testes úteis para screening, mas não selam o  diagnóstico. O diagnóstico deve ser determinado através da Aldo-U (medição da  aldosterona urinária de 24h). A TC com contraste, apesar de útil, não detecta  cerca de 50% dos adenomas e pode, em alguns casos, “lateralizar” incorretamente  a doença. A Análise Venosa Adrenal é considerada o padrão ouro para determinar a  lateralidade da doença. A Espironolactona é o fármaco de escolha nos casos com  indicação de tratamento clínico. 
 
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